Investir no exterior tem sido uma interessante estratégia

Estratégia, Tendência

abril de 2016 | ANTONIO DE PADUA

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* Antônio de Pádua

 

Origem do Processo de Internacionalização:

Com a consolidação do processo de globalização tendo como seus principais marcos a queda do muro de Berlim e o fim da Guerra Fria no decorrer da década de 1980, uma nova ordem, baseada na competição empresarial e não mais na antiga competição entre nações, vem demandando e, em alguns casos, quase obrigando empresas a formularem e implementarem novas estratégias de crescimento e expansão através da abertura de novos mercados, via atuação internacional. A diversificação e a abertura de mercados permitem, entre outros pontos, que as empresas obtenham novos públicos, firmem novas parcerias comerciais e tecnológicas resultando, quando bem estruturadas, no aumento de competitividade, rentabilidade e estabilidade financeira e econômica. Vale aqui o velho e conhecido ditado de que nunca se deve colocar todos os ovos num mesmo cesto.

 

Desafios e Perspectivas Mundiais da Internacionalização de empresas:

A Fundação Dom Cabral – FDC, em sua pesquisa anual realizada desde 2006, intitulada Ranking FDC das Multinacionais Brasileiras 2015, cita, através de seu Coordenador do Núcleo de Estratégias e Negócios Internacionais, o Prof. Aldemir Drummond Junior, que é de fundamental importância a compreensão do processo de internacionalização e que esse processo, muitas vezes, configura-se como uma jornada árdua, em que as empresas e seus executivos têm que lidar com mercados, concorrentes e instituições desconhecidas e, em algumas situações, sofrendo mudanças abruptas. Estas definitivamente não são tarefas fáceis e carecem de planejamento, persistência, estudos detalhados e aprofundados das oportunidades e dos riscos envolvidos.

Ainda segundo a pesquisa da FDC, a internacionalização demanda uma série de decisões estratégicas, como quais mercados penetrar, com quais produtos e/ou serviços, a forma de entrada (sozinho ou com parceiros) dentre outros pontos. Paralelamente, numa outra pesquisa que vem sendo realizada há 25 anos pela UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development), organismo das Nações Unidas, em prefácio redigido pelo Secretário Geral da ONU, BAN Ki-moon, diz que após um crescimento medíocre recente na economia global, onde o investimento global direto estrangeiro em 2014 recuou em 16%, uma recuperação é esperada em 2015 e pelos próximos anos, em especial nas economias em desenvolvimento. Isto reforça a corrente de internacionalização como um processo realmente global, e que certamente não é diferente no Brasil.

 

Motivações, Formas de Atuação e principais Barreiras a Internacionalização:

Em pesquisa realizada pela SOBEET – Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais – e a CNI – Confederação Nacional da Industria – em passado recente, cujos resultados se mantêm alinhados com nossa atual realidade, foram ouvidas 51 empresas dos segmentos de serviços, bens de consumo, bens intermediários e bens de capital, divididas em 20 subsetores distintos. Os principais motivadores para a internacionalização citados foram: (i) obter competitividade internacional; (ii) estabelecer plataformas para exportação; (iii) ter acesso a demanda mundial (novos clientes) e (iv) busca de economia de escala.

Em relação às modalidades de entrada em outros países por meio de investimentos, foram apontados: (i) escritórios voltados a comercialização de produtos e serviços; (ii) estabelecimento de unidade de produção/serviços próprios; (iii) através da aquisição de empresas estrangeiras e (iv) através de políticas de licenciamento de produtos e serviços.

No tocante aos obstáculos internos para internacionalização foram encontrados dez tipos distintos de respostas, sendo as mais citadas: (i) elevada carga tributária no Brasil; (ii) elevados custos logísticos; (iii) flutuação da moeda brasileira e (iv) custo de crédito. Na verdade nenhuma novidade, infelizmente.

Já com relação as barreiras encontradas no exterior a pesquisa citou: (i) alta competitividade em mercados maduros; (ii) ambiente regulatório dos países; (iii) barreiras tributárias (bitributação e cobrança de impostos) e (iv) outros tipos de barreiras impostas nos países de destino.

 

A internacionalização na prática: Experiências Afro-Americanas de Internacionalização: principais desafios e resultados:

Há pouco mais de 8 anos venho atuando diretamente em dois processos de internacionalização, sendo um no continente africano e, mais recentemente, em um processo nos Estados Unidos. Em ambos encontrei desafios similares e, como era de se esperar, particulares a cada um dos países.

A FDC cita que operar em outros países impõe uma série de desafios para as empresas brasileiras em função das diferenças culturais, administrativas/políticas, geográficas e econômicas inerentes à atuação internacional. Ser capaz de identificar, compreender e se adaptar a esses contextos distintos é uma habilidade imprescindível para o bom alinhamento entre a estratégia e a operação internacional, assim como para alcançar melhores níveis de desempenho na gestão de subsidiárias e franquias localizadas no exterior.

Definitivamente estes pontos são importantes para o sucesso em processos de internacionalização, mas particularmente enfatizo a dimensão cultural como fator de alta relevância. Identificar, analisar e ajustar-se aos costumes, línguas, crenças e valores culturais mostraram-se pontos decisivos para nossas operações nesses países. O sucesso de uma empreitada desta envergadura pode ser facilmente comprometido pela falta de conhecimento dos hábitos e preferências dos stakeholders internacionais. Uma simples falha na forma de cumprimento ou agradecimento durante uma reunião de negócios ou em um encontro social podem comprometer seriamente, ou até definitivamente, as relações entre as partes.

Em minhas experiências ficou evidenciado que o estudo e o conhecimento das culturas social e corporativa são de fundamental importância para o sucesso na internacionalização de um negócio. Em alguns casos, até mais importante que as relações comerciais e produtivas. Para citar um exemplo real da importância do conhecimento da cultura de um país, vivenciei um episódio onde, buscando exatamente gerar maior integração entre as culturas dos nossos países, convidamos um experiente palestrante externo para dialogar sobre o tema e, para nossa surpresa, durante a palestra houve uma simples citação do palestrante em relação ao uso de armas de fogo. Tudo bem se não estivéssemos num pais de cultura e forma de governo ditatoriais. O desfecho quase foi trágico, tanto do ponto de vista pessoal do palestrante quanto do nosso negócio. Este episódio, felizmente foi contornado e as relações mantiveram-se em alto nível.

Não há sombra de dúvida de que, se bem implementados, os processos de internalização são estratégias importantes de crescimento e diversificação de mercados, redução de riscos locais e ganho de escala em produtividade para empresas.

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*Antônio de Pádua é CAO na ARG S/A no Brasil e Asset Manager na Alliance Real Estate Holdings nos Estados Unidos. É formado em Ciência da Computação, pós-graduado em Gestão de Negócios e Mestre em Administração.